quinta-feira, 15 de julho de 2010

The beginning...

Hi everybody!
Este é o início da jornada virtual que mostrará o dia-a-dia, conflitos, desafios, vitórias e aspirações de um garoto de 24 anos, portador do vírus HIV, que não o faz melhor e nem pior a ninguém, mas sim o fez ser mais humano e cauteloso (pensa ter descoberto isso dessa maneira aterradora).

Cronologia dos fatos:

--Março de 2008: um domingo como muitos outros, sem nada para fazer, sem pessoas interessantes com quem conversar no MSN, nada de pessoas sem aquele mesmo papo pegajoso... Tudo conspirando a favor de mais um dia de caça na internet, em salas de bate papo do Uol. Acesso a sala, inicio uma conversa com um rapaz de 28 anos (na ocasião eu tinha 21 anos): cabelos loiro-escuros, olhos castanhos, pele branca, um sorriso ofuscante. Encontro marcado, banho tomado. Nos encontramos, aquele frio na barriga logo no primeiro olhar, diga-se de passagem, bem penetrante. Beijos, carícias, pegação, sexo... Me penetrou com camisinha e lubrificante... dentro de meu Citroën nada se via tamanha a quantidade de vapor nos vidros devido a tanto calor entre dois seres humanos do mesmo sexo. Uma transa gostosa, interessante e um orgasmo eterno... Bem eterno, que perdurará pela minha vida inteiro por conta de um preservativo estourado que nenhum de nós dois notou. Olhamos um para o outro e nada dissemos, de nada desconfiamos.

--Agosto de 2008: observo manchas vermelhas em meu rosto, braços, pernas, abdômen e ombros. Não coçam, não ardem, não secretam. Dias depois sinto meus gânglios linfáticos do pescoço muito inchados e doloridos, minha garganta dói, tenho febre e calafrios moderados. Penso no pior. Acesso o site do Ministério da Saúde, clico no link HIV/AIDS e percebo que os sintomas elencados no site são os mesmo que eu tenho. Frio na barriga e desespero tomam conta de mim. Estava em minha mesa no trabalho, sinto como se abaixo de mim existesse um grande buraco negro me puxando com toda sua força galática. Agendo uma consulta de rotina com um Clínico Geral e peço um check-up completo e antes do médico terminar de preencher a Guia de Exames solto uma frase que jamais saída de minha mente:
--Doutor, peça também um exame de HIV... nunca se sabe, né?
Vejo o olhar de repúdio do médico:
--Teve relações de risco?
Respondo:
--Não, Doutor, apenas exame de rotina, pretendo até doar sangue em breve...
Pego a guia, agradeço e saio da sala sentindo carregar uma sentença de morte em minhas mãos.
Na manhã seguinte fiz o exame de sangue... O resultado sairia na primeira semana de setembro. Um dia antes de ficar pronto o laboratório liga para mim e pede para eu que faça novamente os exames. Desconfie de alguma alteração ou conclusão a ser confirmada. Fiz os exames de novo...

--Setembro de 2008: Pego os resultados no dia combinado, antes de ir para o trabalho. Aquele envelope de papel pardo parecia pesar duas toneladas em mim mão. Dirigindo rumo ao trabalho resolvo abrir os resultados. O que tiver que ser, será! Série branca: perfeita... Série vermelha: perfeita! Ufa... Glicemia: ótima... Colesterol e Triglicériedes: exemplares...

HIV: POSITIVO e confirmado pelos procedimentos ELISA e WESTERN BLOT.

Quase bati o carro em um caminhão que havia parado no semáforo, à minha frente. Encostei o carro no meio-fio... li o resultado pelo menos 10 vezes sem conseguir raciocinar. Minha vida estava definhando e seria hora de escolher o caixão no qual meus pais enterrariam seu filho único e com uma carreira bem sucedida, até então, com 22 anos de idade.

No mesmo dia liguei para meu amigo, na minha hora de almoço, e avisou que estou indo até sua casa. Chego lá, me desespero, choro, esperneio e ele me conforta e diz para eu procurar um Infectologista o mais rápido possível. Faço isso.
Marco consulta em uma Infectologista que o plano de saúde me recomendou. Chego lá perguntando quanto tempo de vida me resta e como faço para ter uma morte serena. Ela lê o resultado dos exames, olha em meus olhos e diz:
--Você não vai morrer, não sofra por antecipação. Cuidarei de você.
Então, com toda a paciência do mundo, ela explica tudo sobre a infecção pelo vírus HIV e me pede uma bateria de testes específicos: Carga Viral, Contagem de Linfócitos CD3, CD4 e CD8, e exames para detecção de inúmeras doenças.
Saem os resultados: Carga viral 1.500.000 de cópias do vírus em cada unidade de sangue, Linfócitos CD4: 310 unidades (é a principal célula helper (auxiliadora). Ela diz que eu estava na fase aguda, início da infecção. Pede outro exame idêntico para ser coletado dentro de 15 dias. Resultado? Carga Viral: 2.100.000 cópias e CD4 270: carga viral subindo e imunidade caindo. E dessa maneira continuou até abril de 2009.

--Abril de 2009: A carga viral atinge 3.200.000 cópias do vírus em uma unidade de sangue. Meus linfócitos CD4 despencaram para 63 unidades na mesma quantidade de sangue. Ou seja, eu estave de portas abertas para todas as doenças oportunistas, mesmo tomando o profilático Bactrin F que me causou até alergia cutânea. Neste quadro de baixa imunidade surgiu uma Féstula Anal que me tirava do sério de tanta dor e desconforto e o Proctologista disse que enquanto eu não melhorasse a imunidade não seria possível operar, uma vez que essa é a única maneira de sanar essa infecção de uma glândula anal que causa a Fístula.
Minha médica receita o famigerado coquetel anti-HIV: Biovir de 12 em 12 horas e Efavirenz a cada 24 horas. Vou até o posto de saúde, pego os remédios. Minha cabeça não tinha rumo, não tinha nexo, não raciocinava.
Começo a tomar os remédios, não sinto efeitos colaterais... Sinto como se estivesse renascendo. Recupero o vigor de antes em poucos meses.

--Julho de 2008: continuei fiel aos remédios e aos conselhos de minha médica, especialista no assunto. Resultado dos exames: Quantidade de linfócitos CD4 voltando ao normal e carga viral despencando... A médica disse que tudo estava conforme o esperado e dentro de meses eu teria carga viral INDETECTÁVEL... isso quer dizer que a quantidade de vírus HIV em uma unidade de sangue era inferior a 40 cópias. Recupero parcialmente a vontade de viver.

--Dezembro de 2008: Fiz os exames novamente e recebi o melhor "presente de Natal" que poderia receber, de acordo com a nova situaçao: meus níveis de células helper (CD4) estavam normais e a carga viral que tanto me amedrontava esta INDECTÁVEL! Recuperei totalmente minha vontade de viver, minha Fístula Anal curou espontâneamente. Meu organismo voltou a ser o que era antes. Conheci pessoas que também possuem o HIV e vivem plenamente (com remédios) há 18 anos! Isso me deu um impulso para lutar pela vida.

Hoje, 15/07/2010, continuo com as defesas em ordem, sempre visitando a médica a cada dois meses para controles. Não perdi peso (apesar de querer, pois sou gordinho)...

Vale ressaltar, que toda essa luta eu enfrentei sozinho, apenas recorrendo a minha tia/madrinha quando eu sentia necessida, pois a coloquei a par dos acontecimentos.

Quanto à pessoa que eu DESCONFIO que me infectou, mantemos uma amizade até hoje e não contei sobre o ocorrido, até mesmo pelo fato de eu ter tido relações desprotegidas com outras pessoas, as quais contarei quando for necessário, de acordo com as postagens futuras.

Abraços a todos e CUIDEM-SE...